segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Ódio... Que nos Une...



"Nada une tão fortemente como o ódio - nem o amor, nem a amizade, nem a admiração." Anton Tchekhov

Pois é... Isso é uma grande verdade. Nem amor, nem amizade, nem admiração, mas ódio, puro e simples. Aquele sentimento que vem das entranhas, que é selvagem, que chega, como se viesse do estômago e faz a boca espumar.
Nesse exato momento, as luzes todas parecem se tornar vermelhas, o ar fica pesado, as paredes parecem que nos sufocam e espremem... É... E isso é muito forte. Tão forte que nos liga ao ente odiado. É... É verdade, o ódio é a maior corrente de ligação que todos temos. Senão vejamos...
  • No trabalho, se algum colega nos faz uma gentileza, ficamos agradecidos. Mas, nossa gratidão é mais volátil que álcool de cozinha. Agora, se "aquele imbecil idiota" nos faz uma, uma sacanagem sequer... Vamos ficar cozinhando nosso ódio, até podermos dar o troco. O que pode ser hoje, amanhã, ou daqui a 10 anos. É, o ódio não tem tempo. É atemporal.
  • Com nossos familiares, acho que esquecemos quando nos presenteiam, até com coisas que eles não poderiam pagar, ou arcar. Mas, não esquecemos quando não nos permitiram sair naquela noite, pra ir naquele baile.
  • Tudo parece morto e enterrado, mas, o ódio tem a capacidade de ser onipresente, e, voltar a vida... Na primeira discussão, todas as feridas são reabertas, e, ele volta com força total.
  • Se era um amor, esquecemos facilmente as meninas que nos davam bola... Agora, "aquela chata, esnobe, metida a patricinha" que nunca nos olhou, ahhh, essa a gente não esquece...
Assim, ele está em nós, está escondido, ou por vezes muito bem pronunciado. Agora, olhemos para o mundo, vamos nos espelhar, e... Pensar... Será que somos tão diferentes assim? No conflito do oriente médio, a causa palestina e o governo de Israel, eu penso que, foram tantas mágoas tão antigas, que eles nem sabem mais por que lutam. A única coisa que persiste é o ódio. O ódio das crianças sem pais, que crescem(ou nem crescem muito) e já se tornam homens bomba(ou garotos bomba). O ódio das mães judias que perderam seus filhos soldados por causa de ataques terroristas suicidas. O ódio, o ódio, o ódio. Só faz crescer engolir a todos.
Mas nós... Será que somos tão diferentes desse povo sofrido, tanto os palestinos quanto os israelenses??? Eu aqui não tomo partido de ninguém, pois a dor, essa é universal, essa todos sentimos, assim como o ódio. E, nesses sentimentos, nos igualamos. Nos tornamos iguais, tanto na dor como no ódio. Mas, dos dois, prefiro sentir dor a sentir ódio. Nessas palavras acima, procuro ilustrar como o ódio, quando não compreendido, só faz crescer. E, como somos iguais a nossos irmãos, que vivem do outro lado do oceano. Se não vejamos:
  • Nossos vizinhos, nossos queridos vizinhos... Ahhh, o que eles fazem??? Bem, lavam a roupa com Qboa e estendem a roupa toda molhada e pingando na sanfona da janela, justamente em cima das nossas roupas...
  • Então, para nos vingarmos, fazemos um churrasco na sacada de uma carne bem gordurosa, tipo ovelha, que sai aquela fumaça fedorenta, pra impregnar todo o apartamento de cima...
  • Então, nossos vizinhos, começam a fazer um curso de bateria(sim aquela de bater tambor), e ficam praticando umas 16 horas por dia.
  • Você descobre que o vizinho de cima é alérgico a gatos... Ahhh... E compra uns seis gatinhos filhotes... Tão lindos...
É... Não somos tão diferentes dos nossos irmãos... E, como eles, esses conflitos parecem não ter fim. Eles iniciam, até sem querer, mas depois, não param facilmente. E, vão fermentando, até explodir com violência. Só que todo esse sentimento cru, violento, arrebatador não faz bem. Não faz nenhum bem, mas, faz menos bem a quem sente, do que a quem é odiado. Como disse William Shakespeare, "Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra" , e, com tudo isso no coração, no peito, carregamos esse peso que parece infinito. O pior de tudo é que, quanto maior for o sentimento, maior será o elo de ligação com nosso ente "odiado".
É... O ódio não nos deixará esquecer, não nos deixará relevar, não nos deixará descansar. E... Nem o odiado.


O perdão é melhor. Mas, o perdão não acontece facilmente. Não... Ele tem hora, tem razão... E entendimento. Mas, ele deve acontecer. Deve acontecer quando descobrimos por que a pessoa que nos magoou agiu assim.
Quem sabe ela não queria ter agido assim, ou, não teve escolha, ou foi mal orientada. Sim... Educação e preconceito cultural influenciam muito, e, moldam a visão, e as atitudes. Mas, tentar ver a visão do "inimigo", tentar ter empatia por ele, tentar sentir como ele se sente...
É um princípio, e, principalmente, o início da estrada que poderá nos levar ao perdão. O perdão é nobre, é bonito, é leve, e nos alivia.
O perdão liberta, tanto nossos corações quanto nossas mentes. Mas, nossa cultura de culpa, de ressentimento, de rancor, não deixa ser mais naturais quanto ao perdoar.
Muitos perdoam da boca pra fora, mas não do coração pra dentro. E digo, verdadeiramente perdoar, é esquecer tudo, como jamais tenha ocorrido.
Por que nessa estrada da vida, não existem mocinhos e bandidos, muitas vezes somos vilões de outras histórias e nem sabemos. Por isso, perdoar aos outros é perdoar a si mesmo, e, poder dar a mão e seguir em frente.

Um comentário:

  1. é ...
    aí vale lembrar Dadi Janki:

    “O sol não discrimina sobre quem brilhar, ele apenas brilha. A árvore não escolhe a quem dar sombra, ela apenas dá sombra.
    Do mesmo modo, não deveríamos desistir de nossas próprias qualidades devido a alguém que veio na nossa frente. Um bom rio é aquele que flui constantemente até fundir-se no oceano. Se o rio pára de fluir ele começa a acumular lixo e então outros começarão a jogar lixo nele também. Não importa como seja o outro, eu tenho que dar felicidade”.

    ( Dadi Janki, uma ioguina indiana de 86 anos, foi considerada pelo Instituto de Pesquisa Média e Cientifica da Universidade de Texas, como a "mente mais estável do mundo", porque mesmo testada em situações tensas e perigosas, seu eletroencefalograma marcou a presença constante de ondas delta, as ondas mais positivas e lentas produzidas pela atividade cerebral. Ela recebeu da ONU o título, muito raro de ser concedido, de Guardiã do Planeta, por seu trabalho em prol de mentes mais livres e pacíficas.)

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