terça-feira, 19 de maio de 2009

A Misericórdia Alcança A Todos !



A compaixão do Buddha estendia-se igualmente a todos os seres. Relatam-nos alhures nas escrituras: “Certa vez o Sublime observava um rebanho de carneiros que avançava lentamente, conduzido pelos pastores.
Chamou-lhe a atenção uma ovelha com dois cordeirinhos, sendo que um deles, ferido, caminhava penosamente. Buddha tomou-o nos braços e exclamou: “Pobre mãe, tranqüiliza-te. Para onde fores levarei teu querido filhote. É preferível impedir que sofra um animal, a permanecer sentado nas cavernas contemplando os males do universo”.

Sabendo pelos pastores que o rebanho seria levado à noite para o sacrifício e imolado em honra aos deuses por ordem do rei, o Buddha resolveu acompanhar o rebanho. E os seguiu pacientemente.

Chegando à sala dos holocaustos, observou brâmanes fazendo orações e preparando o fogo crepitante do altar. Um dos sacerdotes, apoiando a faca no pescoço estirado de uma cabra, exclamou: “Eis aí, ó deuses, o princípio dos holocaustos oferecidos pelo rei Bimbisara. Regozijai-vos vendo correr o sangue e gozai com a fumaça da carne tostada nas chamas ardentes; fazei com que os pecados do rei sejam transferidos a esta cabra e que o fogo consuma-os ao queimá-la; vou dar o golpe final...”

Aproximando-se, o Buddha disse docemente: “Não a deixeis ferir, ó grande rei!”, ao mesmo tempo que desatava os laços da vítima, sem que ninguém o detivesse, tão imponente era Seu aspecto. Depois de haver pedido permissão, falou da vida que todas as criaturas amam e pela qual lutam; da vida que todos podem tirar, mas ninguém pode dar; a vida, esse dom precioso para todas as criaturas, maravilhoso e caro a todos, mesmo aos mais humildes e ínfimos, um dom precioso para todas as criaturas que sentem piedade, porque a piedade faz o homem doce para com os débeis e nobre para com os fortes.

O Sublime emprestou às mudas criaturas do rebanho palavras enternecedoras para defendê-las; demonstrou que o homem que implora clemência aos deuses não tem misericórdia; ele, que é como um deus para os animais, fez ver que tudo o que tem vida está unido por um laço de parentesco; que os animais que matamos nos deram o doce tributo de seu leite e sua lã e depositaram sua confiança nas mãos de quem os degolam.

E concluiu: “Ninguém pode purificar com sangue sua mente; se os deuses são bons, não se comprazem com o sangue derramado, e se são maus, não podem lançar sobre um animal o peso de um fio de cabelo, sequer, dos pecados e erros pelos quais se devem responder pessoalmente. Cada um deve se dar conta de si mesmo, segundo esta aritmética do universo, dando a cada um sua medida segundo seus atos, palavras e pensamentos, lei exata, que vigia eternamente e faz com que o futuro seja fruto do passado...” Falou com tal misericórdia e dignidade, inspirado pela compaixão e justiça, que os sacerdotes lavaram suas mãos de sangue e despojaram suas facas. O rei Bimbisara tornou-se seu discípulo.

Assim amigos, a misericórdia alcança a todos os seres. Desde o mais humilde, ao mais elevado.